A minha prática artística tem sido uma viagem multidisciplinar com a Pintura, o Desenho, a
Performance, a Instalação e a Escrita. Cada área satisfazendo necessidades de expressão-revelação
únicas e particulares que apenas fazem sentido dessa forma e nesse momento.
Um dos interesses mais presentes no meu trabalho é a exploração do espaço doméstico, que vejo
como um autêntico cenário para memórias e ações simbólicas, que crio e recrio, auto representando-
me constantemente como protagonista, espelho e veículo.
O ato de observar e ser observada neste contexto actua como uma metáfora da existência pessoal e das
complexas dinâmicas de poder que nos afectam em múltiplos níveis das nossas vivências pessoais,
profissionais e familiares, sendo um tema constante na minha obra.
Recentemente, tenho mergulhado em escavações de certo modo arqueológicas, por territórios do
Passado. Esse mergulho permitiu-me revisitar o trabalho que realizei em Bergen durante o programa
Erasmus, e que ganhou vida no Projeto *How Things Grow And Transform Themselves Into Other
Separate Things, e, actualmente, a minha casa de infância com todo o património material e imaterial
criado e vivido pela minha família nuclear, uma experiência que se desdobra no Projeto Materiais de
Construção.
A minha abordagem inclui a utilização de recriações tridimensionais de espaços domésticos como
meio para exibir objetos com cargas emocionais, quer tenham sido criados por mim ou por outras
pessoas no passado. Estes objetos ganham vida e novos significados ao serem inseridos em outros
espaços, reais ou simbólicos, resultando na reativação, reconstrução e criação de memórias
envolventes.
Utilizando a performance fotográfica, num jogo de focada improvisação, descubro camadas
subjectivas ocultas, impressas em objectos e espaços, que se revelam na constante oscilação entre
Passado e Presente, entre Consciente e Inconsciente.
Neste processo, o meu intuito é também destacar e explorar o intrigante contraste que emerge quando
o espaço doméstico invade o ambiente neutro da galeria, transformando-o num espaço mais acolhedor
e envolvente, ao mesmo tempo que confere ao espaço doméstico uma inesperada estranheza,
tornando-o um local
menos familiar e mais disponível para revelar a sua carga simbólica.
Este jogo de
contrastes proporciona novas camadas de interpretação, escapando às convencionais.
A criação da Galeria Mergulho na minha própria casa de habitação, na qual actuo em múltiplos papéis,
entre os quais o de curadora e artista em residência, levou-me a questionar o oposto:
-O que acontece quando o espaço doméstico se metamorfoseia num espaço de residência artística e
exposição? O que define cada um deles e de que forma cada polo transforma o outro?
Estas perguntas continuam a ser respondidas a cada intervenção que faço neste contexto, numa
constante activação da palavra Liberdade, e são algumas das muitas que continuo a explorar com
entusiasmo e persistência.
Sem comentários:
Enviar um comentário